O cavalheiro dos clássicos



16 set 2021 | Gente

Adauto Bezerra Jr. descreve sua trajetória como colecionador de carros antigos e mostra que cada um tem uma vida e história a ser contada.

 

Uma sigla, um brasão, um nome. Quem já entrou na residência de Adauto Bezerra Jr. sabe que é um caminho sem volta para a imaginação. Apaixonado pela vida, seu carisma e conhecimento se conectam com adultos, jovens e crianças. Porém mais do que isso, suas qualidades foram transmitidas para o seu colecionismo, tanto de objetos antigos quanto de bicicletas aos carros.

Ah! Esse último, com certeza, é sua principal paixão. E olha que tudo começou sem planejamento. Banqueiro, Adauto tinha se mudado para São Paulo para trabalhar no BicBanco, empresa da família. Naquela época os bancos cearenses estavam indo para a capital paulista para alavancar os resultados. Foi nesse período que um gatilho surgiu, fazendo com que sua história se conectasse com a dos carros antigos.

Além dos carros, a coleção de Adauto Bezerra Jr. também inclui objetos antigos. Fotos: Gabriel Correia.

“Foi mais ou menos uns 20 anos atrás quando comprei um Karmann Ghia amarelo. Depois comprei outro e não vendi o Karmann Ghia. Comprei o terceiro e não vendi nenhum dos dois anteriores. Antes eu comprava e vendia, mas quando juntou uns quatro ou cinco, as pessoas começaram a dizer que eu estava fazendo uma coleção. Quando cheguei ao oitavo, opa! Esses carros foram ficando em São Paulo e quando foi aumentando, comecei a mandar alguns pra cá e ficava com outros lá. Quando vim morar em Fortaleza, trouxe o restante.” A partir desse momento, Adauto tinha um museu para chamar de seu.

Já em terras alencarinas, Adauto comprou um terreno anexo a sua casa e pensou em como ele seria utilizado. Fazer um jardim? Sua residência já tinha. Ele iria construir uma grande garagem e colocar todo o seu colecionismo em um mesmo espaço. “Eu já tinha muito carro entulhado na minha própria garagem de casa e na dos outros. Resolvi fazer um galpão com forro, sem muitos detalhes e com ar-condicionado, para tirar um pouco a umidade dos veículos.”

A variedade de clássicos que a garagem abriga é de impressionar. Tem carro que ele comprou cheio de defeito, comprado pronto, reformado e que ele mandou fazer. Inclusive, existe um especial para Adauto. “Meu avô tinha um Willys quando eu era pequeno. Só que vermelho. Comprei esse em Joinville, só que era cinza. Mandei-o pra São Paulo pra ser todo desmontado, refeito e pintado da cor que era o carro do meu avô. Ficou como lembrança. Esse carro não é nada demais, porém fiz por conta disso. Você cria um vínculo. Alguém chega e pede pra vender e eu fico numa preocupação! Não é pelo valor, mas pela sua história.”

O encantamento e a exaltação pela sua coleção de automóveis são visíveis para qualquer um que tem a oportunidade de visitar, porém o que poucos imaginam é a segunda versão de opinião que ele tem para a sua coleção. “Cada carro tem vida. Eles não falam, mas possuem uma história. Quantos namorados entraram nele? Quantas brigas ele não viu? Quantas crianças não fizeram birra no banco de trás? Se eles tivessem um gravador, seria muita história. Quantos acidentes ele não levou? Se tiver acontecido. Cada carro tem uma história e ele está ali dizendo que só está vivo graças a você! Antigamente eu apagava todas as lâmpadas do galpão, deixando só a penumbra da janela e o silêncio. Eu andava e via a silhueta dos carros. Era uma energia impressionante, como se eles estivessem querendo falar com você.”

Atualmente sua coleção possui um total de 30 veículos. Um bom número para quem começou sem experiência, como uma brincadeira. Dentre as muitas raridades que podem ser encontradas, Adauto confessa ser um entusiasta pelo Fusca. “Tenho carros mais importantes, maiores, estrangeiros. Mas gostar é do Fusca. Tanto que tenho quatro!” E ronco do motor ele mais gosta? Essa é fácil. “O do Camaro que tenho aqui. Ele tem um barulho que enche a sala!”

Com tantos carros antigos, claro que as histórias inusitadas e divertidas não poderiam ficar de fora. “Você quer quantas? Já passei por várias!” brinca o colecionador. “Carro antigo é assim, ele tem a vontade dele. Passa uma semana e está tudo ok, aí quando você vai dar uma voltinha, ele para e não diz o porque.” Por mais que o carro seja reformado e bem cuidado, Adauto explica que não se pode querer que ele faça o que um carro novo faz, pois cada veículo tem a sua idade. É preciso ter cuidado com aceleração e freio. E ainda brinca: “se você tem ou anda em um carro, precisa ter duas coisas importantes: freio de mão e um extintor de incêndio.”

A variedade de clássicos que a garagem de Adauto abriga é de impressionar. Fotos: Gabriel Correia.

Diferente dos Estados Unidos e Europa, o Brasil ainda não é um mercado consolidado no “antigomobilismo”. Adauto diz que além da característica cultural, o lado financeiro influencia muito. “O preço de um determinado carro nos EUA é uma coisa e aqui no Brasil é outro. Desestimula muito. Comércio de carro antigo aqui em Fortaleza é muito restrito.” E como fazer para despertar a curiosidade e admiração dos demais para os clássicos automobilísticos? Um belo exemplo é o Museu do Automóvel de Curitiba, um dos mais expressivos museus do gênero em nosso país.

Fortaleza também dispõe de um, porém a falta de investimento e divulgação é algo que precisa ser mudado. “Já que existe a dificuldade das pessoas de irem até o museu, nós que temos os carros, podemos levá-los até os pontos para as pessoas conhecerem. É algo até bom pro turismo. Quem não gosta de ver um carro antigo?” Indaga Adauto. A resposta pode ser fácil, mas o magnetismo indescritível com os automóveis é algo além.

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