*Por Luiz Carlos Secco
O automobilismo brasileiro perdeu recentemente dois expoentes da nossa emocionante atividade esportiva: o engenheiro Francisco Castejon do Couto Rosa e o advogado Mauro Bento Dias Salles, ex-ministro da indústria e comércio, ex-presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, jornalista de O Globo, diretor da Rede Globo e publicitário.
Francisco Rosa, nascido em Patrocínio Paulista, interior do estado de São Paulo, foi um dos principais responsáveis pelo Brasil voltar a integrar o automobilismo internacional quando, em 1968, aceitou o convite para acompanhar o jovem Emerson Fittipaldi numa aventura difícil e pioneira, semelhante a ir à lua.
Além do êxito de ajudar Emerson a conquistar dois títulos de campeão mundial, traçou o caminho para outros jovens brasileiros chegarem à principal categoria das corridas, entre os quais Wilson Fittipaldi Júnior, José Carlos Pace e Nelson Piquet.
Mauro Salles, filho de Apolônio Salles, senador da república e ministro da agricultura do governo de Getúlio Vargas, desenvolveu seu relacionamento inicialmente no Rio de Janeiro e, posteriormente, em Brasília, onde se acostumou a conviver com os donos do poder, o que o ajudou a se destacar profissionalmente sempre dedicado às suas grandes paixões, que foram a comunicação e o automobilismo.
A herança política de seu pai e o desenvolvimento empresarial do País o ajudaram a se tornar figura central do processo de profissionalização da publicidade brasileira. E a paixão pelos carros fez dele o mais expressivo homem de comunicação da indústria automobilística brasileira.
Nascido em Recife, no dia 6 de agosto de 1932, Mauro começou sua carreira, nos anos de 1950, após a transferência de seu pai para o Rio de Janeiro, como repórter fotográfico da revista norte-americana Life e da revista Mundo Ilustrado, enquanto cumpria o curso de direito. Seu brilho profissional o levou ao cargo de diretor de jornalismo da Rede Globo, na época da inauguração da emissora, em 1965. Antes foi chefe de redação do jornal O Globo e por sua paixão pelos carros, criou a primeira coluna regular sobre automobilismo da imprensa brasileira.
Com o prestígio construído como jornalista, em um evento da Willys-Overland, tornou-se amigo do norte-americano Wiliam Max Pearce, presidente da empresa que o incentivou a criar, em 1966, uma agência de publicidade, que tive a honra de ser o primeiro jornalista a ser convidado por Mauro para conhecer suas instalações, ainda em fase de montagem, na Rua Teixeira da Silva, na região da Avenida Paulista. Homem de muitas ideias e com forte relacionamento político comandou uma série de eventos promocionais que fizeram da Willys a empresa mais empreendedora do País.
Mauro introduziu no automobilismo eventos que atraíam a atenção do público e que proporcionaram forte divulgação, em benefício da marca e de seus produtos, como o Rali da Integração Nacional, entre Fortaleza e Chuí, em distância superior a 5.000 quilômetros; Reide de Integração Nacional, em parceira com o Ministério dos Transportes, com automóveis Maverick e Corcel, percorrendo todo o Brasil, para divulgar que o Brasil possuía estradas para o seu desenvolvimento; show no Autódromo de Interlagos da equipe norte-americana Tournament of Thrills; recorde mundial de resistência de um automóvel Gordini na distância de 50 mil quilômetros; construção do primeiro carro brasileiro da Fórmula 3, que competiu numa série de corridas na Argentina, pilotado por Wilson Fittipaldi Junior; formação da equipe Hollywood, com automóveis Ford Maverick e Porsche, em projeto integrado pelo designer brasileiro Anísio Campos e o preparador de motores argentino Oreste Berta.
A mais corajosa ideia de Mauro Salles foi a instituição do primeiro recall da indústria automobilística brasileira, ação desenvolvida após o lançamento do automóvel Corcel, em 1972, para corrigir um problema na suspensão dianteira que desagradou os primeiros proprietários do automóvel, mas que resultou em confiança dos clientes para a marca. E foi dele, também, a ideia de construção da primeira limusine presidencial doada à frota do Palácio do Planalto para o transporte do presidente da República Castelo Branco em eventos oficiais e demonstrar o avanço da indústria automobilística brasileira.
Francisco Rosa, por coincidência, foi revelado também pela equipe de competições da Willys, comandando o trabalho de cronometragem que registrava os tempos estabelecidos pelos pilotos ao longo das competições e permitiam a avaliação de cada integrante para a melhora dos resultados e, por intermédio de seu trabalho, aceitou convite do então jovem Emerson Fittipaldi para colocar o Brasil de volta no cenário do automobilismo esportivo internacional e, também, de descobrir a trajetória para ganhar a corrida mais veloz do mundo, a 500 MiIhas de Indianápolis, nos Estados Unidos. Além de Emerson, Francisco Rosa também foi o orientador de vários pilotos brasileiros e internacionais, entre os quais, o argentino Carlos Reuteman e o belga Jacky Ickx.
Ao retornar ao Brasil, em 1975, foi convidado para assumir a administração do Autódromo de Interlagos, cargo em que impôs suas ideias na reforma da pista adequando-a às modernizações recomendadas pela FIA para o melhor desempenho dos carros e maior segurança dos pilotos. Por sua experiência e jogo de cintura para contornar interesses foi o administrador do autódromo até 2015.
Mauro Salles e Francisco Rosa destacaram-se por outra virtude: a solidariedade aos amigos. Eu tive a sorte de desfrutar dessa virtude dos dois ícones do automobilismo brasileiro. Por intermédio de ligações telefônicas, Francisco Rosa me transmitia informações das corridas de Emerson, que eu divulgava com exclusividade no Brasil quando residiram na Inglaterra para tentar chegar à Fórmula 1.
De Mauro Salles, recebi a orientação necessária para trabalhar de maneira eficiente e produtiva quando o meu escritório firmou contrato com a Ford para comandar a assessoria de comunicação da empresa após o término da joint-venture Autolatina.