Um cafezinho e a conta, por favor!



26 mar 2021 | Colunas

Por: Marcos Barbosa

 

Um cafezinho e a conta, por favor! Era assim, com café, que antigamente se encerravam todas as refeições nos restaurantes. De lá pra cá muita coisa aconteceu. As variações foram surgindo: preto, com leite, expresso, pingado, cappuccino ou com chantilly. Alguns bebem em xícara, outros em copo. Hoje não importa como e onde o café é servido. Os hábitos mudaram, o gosto pela bebida não.

Esta bebida tão apreciada por nós teria chegado ao Brasil em 1727 pelas mãos do oficial português Francisco de Mello Palheta. O oficial recebeu as mudas de presente das mãos de uma senhora casada, que teria sido sua amante na Guiana Francesa. Não poderia ser mais abençoado esse caso de amor e traição. Plantado inicialmente no Pará, o café depois seguiu viagem para o Rio de Janeiro e alcançou o seu apogeu em terras paulistanas.

O café já era consumido desde a Antiguidade quando os habitantes da África Oriental passaram a conhecer a planta. Foi nessa região que as sementes ou grãos foram pela primeira vez torradas, moídas e postas em infusão, no século XIV. Depois disso, persas e árabes entraram em contato com esse hábito de consumo, passando o café a ser cultivado em várias partes do mundo. A palavra “café” vem do árabe “qahwah”, cuja origem é desconhecida.

Diz a lenda que tudo começou há mais de mil anos, quando um pastor da região que hoje é a Etiópia observou que as suas cabras ficavam fritas saltitantes quando comiam frutinhas de um certo arbusto. Mas se é verdade ou não ninguém sabe. Afinal de contas é uma lenda. Fato é que as tais cabras de bobas não tinham nada.

O cafeeiro foi levado para o sul da Índia inicialmente, e de lá acabou chegando às colônias francesas no Caribe. Hoje em dia o Brasil, o Vietnam e a Colômbia são os maiores exportadores do mundo, enquanto que os países africanos respondem apenas por um quinto da produção mundial.

O hábito de beber café na Europa surgiu quando os turcos otomanos, no final do século XVII, levaram o produto para Veneza, porém, a maneira como preparavam a bebida não agradava aos europeus que criaram uma diferente maneira de aprontar o café. Em seguida como forma de melhorar a apreciação do café, houve a criação de máquinas especializadas para o preparo do produto e assim surgiram as cafeterias, que mescladas com confeitarias ofereciam às famílias europeias um ambiente aconchegante para frequentarem.

Por causa da cafeína, o café foi considerado, por uns, bebida demoníaca e, por outros, um néctar dos deuses. Ao chegar na Itália, como era uma bebida maometana, foi proibida aos cristãos e somente foi liberada depois de submetida à aprovação da Igreja através de decreto do papa Clemente VIII. Tanto barulho por nada. Hoje até as crianças consomem.

Curiosamente o rei sueco Gustavo II convencido de que o café era um veneno ordenou a suspensão da execução de um condenado à morte e mandou aprisiona-lo determinando que tomasse café até a morte para descobrir o poder letal da bebida. O prisioneiro fora monitorado pelo médico do rei durante anos a fio.  O médico foi o primeiro a morrer. O rei também não viveu para comprovar sua teoria. O prisioneiro, entretanto, só veio a morrer 12 anos depois de causa desconhecida.

O café, que no Brasil em seu apogeu também era conhecido como “ouro verde”, prosperou na Baixada Fluminense e no Vale do Paraíba fazendo a fortuna de fazendeiros que ficaram conhecidos como os barões do café. Suas fazendas se ampliaram numa velocidade impressionante, derrubando florestas e recrutando milhares de escravos para realizar as tarefas da produção cafeeira. No final do século XIX, o Brasil dominava 70% da produção mundial e ditava as regras do mercado internacional.

Nosso café mais famoso, o Brazilian Santos, foi assim batizado em homenagem ao pai da aviação, Alberto Santos Dumont, descendente de uma das grandes famílias produtores de café do país e o famoso divulgador do café made in Brasil, no início do século XX. Mas há quem recuse essa hipótese e atribua o nome Santos ao porto paulista de onde o café era exportado.

Hoje é possível descobrir cafés incríveis por todo o território nacional. Cada vez mais temos informações sobre os pequenos produtores e suas criações especiais. E o trabalho do “coffee Hunter”, a pessoa que sai em busca de um bom grão, está ficando mais complexo. Com o avanço do conhecimento e da experiência dos produtores, estamos vendo uma profusão de técnicas de café especial desenvolvidas aqui mesmo no Brasil.

Não importa a ocasião: de norte a sul do Brasil tem alguém inventando um novo jeito de beber café, seja no lazer, com os amigos, vendo um filme ou em uma reunião. Variedades não faltam: cappucino, expresso, pingado, média, café longo, café curto, cafezinho e muitas outras.

O café é, ao lado da cerveja, a bebida mais popular do planeta. Apesar da preferência, as suas formas de consumo são tão diversas, que podem fazer com que o consumidor mais desavisado tenha grandes surpresas. Em alguns lugares da França ele é bebido com chicória, na Áustria ele também é consumido com figos secos. Já na África e no Oriente Médio seu sabor é reforçado com especiarias como canela, cardamomo, alho ou gengibre. Na Bélgica, terra do chocolate, pequenos pedacinhos são colocados no interior da xícara e derretam em contato com o café. Na Itália o expresso é a preferência nacional e na Grécia e Turquia, além de não ser coado, ele vem acompanhado por um copo de água gelada. Os cubanos preferem bem forte e os americanos bem fraco e muitas vezes gelado.

E então, vai um cafezinho aí?!

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