A fantástica iniciativa do empresário Silvio Frota, que decidiu apresentar ao cenário brasileiro um equipamento de promoção de educação e cultura.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa nº 41 em 2017
O Museu da Fotografia de Fortaleza é uma zona de conhecimento. E é ainda mais: um prédio de 2500 m² de área com quatro andares para abrigar o acervo de mais de duas mil obras da Fundação Paula e Silvio Frota. É também um espaço dedicado à educação, com um auditório para a realização de palestras, debates e workshops. Mas é principalmente o sonho tornado realidade de um homem singular: Silvio Frota, 63 anos, empresário que se apaixonou pela arte da fotografia e decidiu investir nesse sonho em longo prazo.
Tudo começou quando Silvio participou de um leilão e adquiriu sua primeira obra “A Garota Afegã”, do fotógrafo Steve McCurry, que foi capa da revista ‘National Geographic’ em 1985. Desse momento em diante, o empresário passou a ler e estudar sobre fotografia e a frequentar galerias e leilões. As obras adquiridas por Silvio foram aumentando e os mais de dois mil trabalhos que abrangem dois séculos de história nacional e estrangeira precisavam ser compartilhados com a população. Estava na hora de abrir um museu em Fortaleza dedicado à fotografia.
No dia 11 de março de 2017, o público finalmente pôde conhecer o paraíso que a Fundação Paula e Silvio Frota construiu. Para a inauguração, 440 obras do acervo foram expostas e divididas em temas: ‘Um imaginário de cidades’, ‘Sobre crianças’, ‘Jogos de olhares: aspectos da fotografia moderna e contemporânea’ e ‘O Norte e o Nordeste’, sob curadoria de Ivo Mesquita, paulistano que já foi curador da Bienal e da Pinacoteca de São Paulo.
Antes de abertura oficial, Silvio e Ivo nos receberam no museu para a entrevista. Começamos o passeio pelo térreo, que é ocupado pela exposição temporária ‘Um imaginário de cidades’, cujas fotografias selecionadas pelo curador possuem ligação com o ambiente urbano. Desse modo, é possível visualizar diferentes momentos históricos não só do Brasil, mas também mundial, como os registros da construção de Brasília nos anos 50 pelo fotógrafo Marcel Gautherot, a série de fotos que Gabriel Chaim fez sobre o conflito na Síria, passando pelo instante preciso de Henri Cartier Bresson até a icônica foto ‘A Menina Afegã’, talvez a principal estrela do museu. Além disso, o térreo tem um espaço para cafeteria e uma lojinha com produtos voltados para fotografia.
O grande norte do museu é fazer um trabalho educacional. Ivo Mesquita sabe que por ter uma coleção própria, muito extensa e bastante completa, o museu vai permitir muito estudo, pesquisa, exposições e publicações. “Isso é um patrimônio que a cidade está ganhando, o Estado, o Nordeste, o País. Em segundo lugar, o museu está surgindo em um momento em que nosso país está passando por uma crise muito grande, então a iniciativa que o Silvio está fazendo é a de acreditar no Brasil, na cidade”, ressalta o curador. Outro aspecto muito importante é a representatividade que o local vai ter para a economia do turismo em Fortaleza. O Museu é um equipamento altamente qualificado com um material muito importante e que sempre terá possibilidade de muita informação a qualquer visitante, seja local ou de fora. “O valor agregado que ele vai trazer a estrutura de turismo da cidade é imenso”, conclui Ivo.
No meio de tantas obras expostas, como se conectar com diferentes histórias e elementos que cada fotografia carrega ali? Para o curador, todo museu conta uma história, cria uma narrativa. A do período da ditadura contou com várias séries de fotógrafos importantes feitos naquele período e elas vão ser mostradas nessas outras exposições que virão a partir dessa primeira.
Para Silvio, as pessoas vão poder ver fotos no Museu que não vão ver em local nenhum do mundo. “Tem muitas fotos aqui que você não consegue ver em outros museus. É muito abrangente, uma característica diferente. Os outros museus que são de imagens e pinturas possuem uma sala de fotografia. Aqui é só de fotografia. E é isso que vamos ensinar as pessoas: não existe uma foto importante, todas são importantes”, diz o empresário.
Com isso vamos para o segundo e terceiro pisos, que serão dedicados para exposições permanentes e de longa duração do acervo. Em ‘Jogos de olhares: aspectos da fotografia moderna e contemporânea’, as obras buscam relacionar o ato fotográfico com outras expressões artísticas. Como é o caso do artista Yuri Firmeza. Ivo Mesquita nos explica que não é necessariamente um fotógrafo, mas um artista que usa a fotografia pra fazer a sua arte.
Seguindo o fluxo, encontramos a exposição ‘O Norte e o Nordeste’. Mesmo dirigido para o público em geral, aqui é também uma forma de entrada regional no Museu. O cearense pode encontrar a empatia ao deparar, por exemplo, com uma foto antiga da Catedral de Fortaleza, destaca o curador paulistano. A série sobre o cangaço de Benjamin Abrahão e o ensaio de Chico Albuquerque na produção do filme de Orson Welles ‘É Tudo Verdade’, no Ceará, em 1942, traz um olhar sobre a vida e o imaginário do nordestino.
No último andar, Silvio nos apresenta um auditório multifuncional, que vai servir para palestras e workshops. “As cadeiras são soltas justamente para ser multiuso. Tanto para workshops de foto como para filmagem”, ressalta Silvio. Auditório este que tem uma copa que dá acesso a um local para recepção de convidados.
Na atual situação socioeconômica que o Brasil se encontra, Silvio sabe do grande desafio de investir em um equipamento como este em Fortaleza. “Ninguém quer fazer investimento. O que estamos fazendo aqui já é uma loucura, e a divulgação precisa ser muito forte. Quem é fotógrafo sabe da importância e da necessidade da classe de ter um equipamento próprio. Vamos trabalhar muito para trazer as pessoas para cá”. Não por acaso o prédio recebeu o nome de Museu da Fotografia de Fortaleza e não de Coleção ou Instituto Silvio e Paula Frota. “A primeira coisa que um turista quer conhecer quando visita uma cidade nova são os museus. É um patrimônio maravilhoso que vamos sentir orgulho da cidade, da região”, conclui Silvio.
A iniciativa de Silvio já está rendendo bons resultados. O secretário de Turismo de Fortaleza quer reconhecer o Museu como Patrimônio Turístico da cidade. No dia 05 de julho de 2017, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Setfor), reconheceu o Museu da Fotografia de Fortaleza como Patrimônio Turístico da Capital.
O museu está funcionando de terça a domingo, de 12h às 17h, com entrada gratuita (cortesia Simpex e Dasart).
Endereço: Rua Frederico Borges, 545 – Varjota
Site: http://museudafotografia.com.br/
Facebook: @museudafotografiafortaleza
Instagram: @museudafotografiafortaleza